Como tem sido hábito, o SITAVA -Sindicato dos Trabalhadores da Aviação e Aeroportos emitiu mais um comunicado em relação à sua posição sobre a situação da TAP.
“Como habitualmente no fim de cada mês, o SITAVA em conjunto com outras organizações sindicais reuniu com a DRH, onde nos foram transmitidas as opções da empresa no que respeita
à redução do período normal de trabalho e do respetivo corte salarial para todos os trabalhadores da empresa. Tal como no mês anterior, foram aplicados vários níveis de redução que vão dos 5% aos 60%, aos quais correspondem também níveis salariais diferentes, compreendidos entre os 88% e os 99%.
Este “ritual” que começa a banalizar-se, acarreta em si mesmo uma insuportável carga psicológica na medida em que somos colocados perante a realidade de mais um mês de grande sofrimento para os trabalhadores, sem que nada mais possamos fazer que lamentar a desproporcionalidade das medidas. Temos consciência que nesta altura há já muitos trabalhadores a passar momentos de grande constrangimento e até de alguma privação.
Vivemos na TAP desde há algum tempo um clima de paz falsa que, tendo nós o conhecimento que temos da situação da empresa, transmite aos trabalhadores uma sensação de abandono.
Diríamos até que, não fora o Senhor Diretor Arik De ter contratado mais um assessor internacional, quando a empresa despede ou ameaça despedir tudo o que mexe, nada mais acontece de
relevante. Era muito importante saber quanto vai custar à TAP mais esta iniciativa do Senhor Diretor. Ou este novo assessor, à semelhança de outros, vem também pro bono.
A Comissão Executiva tinha todas as condições para conduzir a empresa, integrando a opinião informada dos trabalhadores, mas parece que essa não é a sua opção. Uma coisa podemos afirmar desde já, factos consumados serão sempre muito mal recebidos pelos trabalhadores.
Bem sabemos que a situação do transporte aéreo a nível mundial está em sérias dificuldades e, naturalmente, a situação da TAP também sofre com isso. Por variadíssimas vezes temos dito que
somos realistas, que temos um profundo conhecimento da empresa, e por isso também sabemos que a diminuição drástica da procura, está a fazer o ajustamento em termos de frota que a
situação impõe.
Isso é uma coisa. Outra bem diferente é aquilo que nos vão tentando impingir com recados e notícias plantadas na comunicação social de que será sobre os trabalhadores que recairão os
custos da crise. Desenganem-se aqueles que pensam dessa forma. Reafirmamos que não aceitaremos nem cortes cegos nem factos consumados. Apenas o diálogo e a negociação são as
ferramentas da democracia.
Os trabalhadores de terra da TAP já deram e estão a dar muito do seu salário, e por isso exigem que a Comissão Executiva informe o estado das negociações com os variadíssimos fornecedores, e principalmente com os “leasings” da frota. E já agora que nos informe também os custos dos parqueamentos de aviões em placas de empresas onde o Estado Português é também acionista.
E a M&E Brasil vai continuar a acumular prejuízos sem que nada se faça? Vai continuar a ser um sorvedouro de recursos, para os trabalhadores continuarem a pagar? A quem interessa a
manutenção desta situação? Será que existem outros interesses associados a este negócio? O governo brasileiro do Senhor Bolsonaro é também parte interessada? Como se vê são muitas
perguntas para as quais os trabalhadores, que pagaram e continuam a pagar este desvario, exigem respostas e sobretudo ações para terminar de vez esta desastrosa e cara aventura.
A propósito temos que denunciar aqui também a inqualificável decisão de retirar trabalho da Manutenção e Engenharia em Lisboa, que tem capacidade e espaço para o executar, para o enviar para o Brasil. Na situação atual, esta é uma decisão de muito difícil explicação. A Direção da M&E e a Comissão Executiva têm o dever de esclarecer cabalmente e justificar esta estranha decisão.
As questões que atrás relatámos colocam, por isso mesmo, maior exigência na resposta às seguintes perguntas: A manutenção da nossa frota vai continuar a ser feita fora de Portugal?
Por outras palavras, vamos continuar a contribuir com o nosso esforço e com os nossos recursos para criar postos de trabalho no estrangeiro em vez de os criarmos no nosso país? Já o dissemos antes, e reafirmamo-lo agora, é imperioso e vital que, desde já, se prepare o investimento na M&E para que, com o fim da aventura brasileira que deve acontecer no imediato, a manutenção de toda a frota seja assegurada pelos trabalhadores da TAP.
Outro grande tema que tem surgido nas últimas semanas, em todas as conversas quando se fala da TAP e da sua recuperação é o “outsourcing”. Certamente já fruto da reestruturação que parece que anda a ser elaborada pela tal consultora da “folha de Excel”, o remédio para tudo passa por esta prática. Não podemos deixar de alertar os responsáveis incluindo o Governo que representa o acionista Estado que, a verificarem-se tais práticas, elas iriam claramente contra os compromissos assumidos pelo Senhor Ministro em reunião com os sindicatos, e configuraria um autêntico crime económico contra a empresa.
A complementaridade dos serviços deve ser mantida. É uma falácia enganadora pensar-se que outros fazem melhor e mais barato o trabalho que hoje executamos no seio da nossa empresa.
Na TAP existe grande historial de “negociatas” escuras, exatamente associadas ao “outsourcing”.
Estaremos vigilantes e muito atentos, e não hesitaremos em denunciar qualquer tentativa de desmembramento da empresa.
Por fim, é bom esclarecer de novo os trabalhadores, em relação às muitas ameaças – ainda que veladas – que surgem de vários lados, nomeadamente na comunicação social, tentando
desestabilizar o nosso dia a dia. Por tudo o que atrás dizemos, fica muito claro que não existe excesso de MDO no pessoal de terra. Mais uma vez reafirmamos: as reduções de custos devem ser procuradas onde estes existem realmente em excesso.”