Sindicato dos Trabalhadores da Aviação e dos Aeroportos acusa a administração de Antonoaldo Neves em toda a linha e conclui que “até a Ryanair faz melhor que a TAP”.
“Chegados ao fim do mês de junho, mês em que tudo fazia prever que o Lay-Off terminaria, e com a abertura de fronteiras os aviões começariam a voar, nada disso aconteceu. Ao contrário das outras companhias, que demandam os aeroportos nacionais com aviões de grande porte, os da TAP continuam no chão. Certamente os gestores dessas companhias estão a gerir mal os seus negócios e a perder dinheiro. Ou será o contrário?
A invés disso, fomos de novo violentados com mais um e-mail (pois claro um e-mail) emanado da Direção de Recursos Humanos, lembrando-nos que afinal o castigo se irá prolongar. Esta impensável situação torna-se ainda mais violenta porquanto configura, além do prolongamento dos cortes salariais, também a continuação da sobranceria na forma de comunicar, denotando uma insuportável falta de consideração pelos trabalhadores e pelos seus representantes. Ou será que o Senhor CEO da TAP pensa constituir-se em “sindicato das lives”, substituindo os verdadeiros?
Do vasto leque de empresas, onde representamos trabalhadores, a TAP é a única onde os trabalhadores são tratados desta forma, com autêntico desprezo que roça a insolência. Afinal os trabalhadores, que enchem a boca dos gestores quando estes falam em público, são depois tratados como “coisas descartáveis” a quem se envia um simples e-mail para lhes anunciar a punição seguinte, e mesmo este sempre tarde e a más horas. Hoje, a dois dias do fim do mês, ainda ninguém sabe o que fará no próximo dia 1 de julho. Temos que reafirmar sempre e em cada momento, que mesmo com a pandemia, não passou a valer tudo.
E o que dizer da atitude da empresa em relação à questão das férias? Decidiram pagar o subsídio de férias a todos os trabalhadores, o que saudamos, mas até esta “benevolência” não foi ingénua. Descobriram à última hora, que pagando já, a empresa ficava isenta do pagamento da TSU. Mais uma vez se constata que os trabalhadores apenas recebem agora o subsídio de férias porque isso traz vantagens à empresa, e não por qualquer gesto magnânimo de consideração pelos trabalhadores. Mas há mais.
Quanto ao gozo dos períodos de férias que os trabalhadores têm planeados a atitude da empresa é ainda mais mesquinha. Temos sido informados pelos nossos associados que a empresa está, nalguns casos, a forçar o gozo de férias a trabalhadores que estão em casa desde abril, com suspensão do contrato de trabalho.
É difícil encontrar um adjetivo para isto que não seja sinónimo de malvadez. É bom que se saiba que esta mesquinha atitude da TAP apenas tem por finalidade poupar alguns euros, enquanto outras empresas do setor não hesitam em retirar os trabalhadores do Lay-Off, pagando-lhe o salário a 100% durante o período de férias. Até a Ryanair faz melhor que a TAP. Inacreditável.
Por fim, não podemos deixar de nos interrogar com a situação de impasse que se vive na companhia, com os acionistas minoritários a bloquearem a solução financeira que já deveria estar na empresa. Depois das audições havidas na Assembleia de República, que trouxeram a público as divergências existentes entre o Conselho de Administração e a Comissão Executiva, ficámos com a certeza de que o Estado soberano tem que atuar rapidamente e assumir o controlo da empresa. Esta é uma decisão urgente não só para colocar no terreno a retoma da operação que já tarda, mas também para iniciar a reorganização interna e parar com o desmantelamento em curso nalgumas direções vitais para essa retoma.
Esta é uma questão crucial para o futuro da companhia e para os trabalhadores que afastados dos seus locais de trabalho, vivem um quotidiano de grande incerteza e insegurança. Por um lado, a comunicação social, toda em uníssono, faz eco das propostas que o Governo apresentou aos acionistas minoritários. Por outro, da parte destes, escuta-se um ensurdecedor silêncio que parece demonstrar muito pouca vontade de investir na empresa que, dizem, também é sua. Afinal estes acionistas querem ou não contribuir para a recuperação da companhia aérea nacional?
Fazendo fé nas declarações do Senhor Ministro das Infraestruturas e Habitação, fica claramente demonstrado que os acionistas privados e também a sua Comissão Executiva não têm os interesses alinhados com o interesse da companhia e dos seus trabalhadores, mas apenas com os seus próprios. É tempo de isto acabar.”