Em entrevista ao Expresso, Eddie Wilson, presidente da Ryanair, não hesita em dizer que o que mais o espantou no impacto da pandemia de Covid-19 no sector da aviação foi a resposta da Comissão Europeia à crise, ao permitir auxílios de Estado que vão distorcer a concorrência. “O que mais surpreendeu? A União Europeia apoiar empresas de forma não natural (ao aprovar injeções de capital dos Estados). Os consumidores vão perder por causa da redução da concorrência. É uma vergonha”, sublinha.
Lutar contra os auxílios de Estado é uma prioridade para a Ryanair. “Queremos uma União Europeia que seja forte e competitiva. As ajudas de Estado deveriam estar acessíveis a todos. Assim há uma distorção de mercado. Vimos o que aconteceu aos países que apoiaram com capital público empresas não funcionavam por si próprias e não é bom”, afirmou.
Para travar a opção de Bruxelas, a Ryanair avançou com queixas no Tribunal de Justiça da União Europeia (TJUE) contra a Comissão Europeia por auxílio de Estado a seis companhias. O alvo mais recente foi a TAP e a luz verde da Comissão para um auxílio de Estado de até 1,2 mil milhões. Outro processo a caminho é a autorização de Bruxelas para o apoio de 133 milhões de euros à SATA. “Claro que vamos queixar-nos (contra o auxílio à SATA). Isto é a Europa não é a Coreia do Norte”.
“O que a Comissão está a fazer “é um enorme erro para a concorrência a longo prazo. Cremos que o Tribunal Europeu nos vai dar razão, caso contrário não vemos ter um mercado único”, defende o gestor.
Eddie Wilson diz que os 1,2 mil milhões que o Estado está disposto a gastar com a TAP seria mais úteis se fossem gastos, por exemplo, na saúde ou nos caminhos de ferro, ou mesmo no sector de aviação, aplicados de outra forma.
“Se o Governo português tem 1,2 mil milhões de euros em trocos para companhias áreas o que devia ter feito era abolir as taxas nos aeroportos portugueses nos próximos três anos e encorajar as companhias aéreas a trazer mais tráfego, isso é que criaria mais empregos”, frisou.
E continuou: “A capitalização da TAP vai ser o maior desperdício de dinheiro de sempre em Portugal e não irá fazer nada para criar mais rotas e conectividade para o país”. “Imagine o que o sistema de saúde português faria com os 1,2 mil milhões que o Estado vai dar à TAP. Ou os caminhos de ferro”, atirou.
“A liberalização do mercado da aviação aconteceu há 25 anos, e com isso os europeus tiveram acesso a viajar a preços mais baixos. Os portugueses beneficiaram da liberalização não só no turismo no Algarve, mas também no Porto. Ninguém estava disponível para viajar a partir do Porto quando a Ryanair lá chegou”, lembra.
“A Europa fez um mercado competitivo que resultou em preços mais baixos… Vamos voltar 25 anos atrás e pôr tudo como era? Ninguém vai voar para lado nenhum. Vamos provar em tribunal que não faz sentido”, sentenciou o líder executivo da companhia.