A 15 de junho de 1947 a SATA realizava o seu primeiro voo num Beechcraft UC-45B Expeditor (CS-TAA), de nome Açor.
O voo foi realizado entre São Miguel e Santa Maria, tendo aos comandos Marciano Veiga e Ferreira de Almeida.
Inicialmente, o sucesso desta operação não foi o desejado, apesar de, na máxima medida das suas possibilidades, a empresa ter realizado alguns voos extra-horário e fretamentos para satisfazer a procura de lugares verificada no advento da sua atividade comercial.
As ligações eram pouco frequentes e ofereciam um número muito limitado de assentos (apenas seis em cada voo). Apesar de operados em regime regular, os voos estavam sujeitos às contingências da meteorologia, sobretudo em Santana, onde as condições da respetiva operação eram, ainda, agravadas pela falta de ajudas de rádio adequadas.
O campo possuía apenas um radiofarol/NDB(SML), cujo semento de aproximação final-perpendicular à parte montanhosa da Ilha- impunha condições de teto e de visibilidade limitativas dos voos ali realizados. Além disso, avultava o estado deficiente das pistas de aterragem (em terra batida e sem as condições mínimas de operacionalidade), que as tornavam, frequentemente, impraticáveis com tempo chuvoso. E, como corolário de tudo isto, não existia, ainda, a necessária confiança no transporte aéreo.
Com o início das ligações comerciais entre os únicos aeroportos então existentes nas ilhas, estava dado o passo fundamental e decisivo para transformar a SATA num instrumento de mudança, ao serviço dos Açores.
Na realidade, o avião havia de transformar a realidade açoriana, constituindo uma alternativa aos navios da Insulana e dos barcos dos Parece. Santana de Rabo de Peixe transformou-se, com o tempo, numa opção interessante ao Cais da Alfândega. Para isso contribuíram, além do Cte Marciano Veiga, dois outros pilotos dos SAC/DGAC, ainda nos anos quarenta: primeiro o referido Cte Ferreira de Almeida e, depois (como se verá mais tarde), o Cte Manuel Rocha, cuja ação nos anos pioneiros da Linha Aérea Imperial, inaugurada por aquele serviço estatal, foi determinante para firmar a credibilidade da aviação civil portuguesa no panorama internacional.
O transporte aéreo era agora uma possibilidade; porventura mais atrativa, se considerarmos as incontornáveis seis horas de mar que separam Ponta Delgada de Vila do Porto. A possibilidade de rasgar os horizontes limitados da ilha estava agora a escassos 30 minutos de voo, por vezes, também, agitados, mas, mesmo assim, mais suportáveis do que as longas horas passadas no mar.
O campo de aviação de Santana determinaria, fortemente, as incidências da operação da SATA nos Açores, rolando os seus aviões na mesma relva que servia de alimento às vacas (… e ovelhas) que por ali pastavam. Nesse sentido, tentar perceber as mudanças por que passou a transportadora açoriana e as suas opções de desenvolvimento ao longo destes anos (qual fenómeno de longevidade no panorama da aviação civil mundial) é compreender a sua ligação natural aos açorianos e ponderar as peculiaridades da sua operação, ininterrupta, de mais de meia século, num frágil contexto insular.
Fácil se torna, também, perceber que a missão de sempre da companhia aérea açoriana jamais esteve isenta de constrangimentos e vicissitudes. No entanto, essas dificuldades jamais abalaram a determinação dos seus responsáveis em unir os açorianos, contribuindo para minorar o seu isolamento do mundo ao longo das várias décadas da implantação e afirmação da Companhia enquanto fator de progresso ao serviço do desenvolvimento dos Açores.
Texto adaptado de Ermelindo Peixoto.